Quando um livro se torna parte de nós...
Um ano. Passou pouco mais de um ano. Volto a pegar nas tuas páginas e a relê-las de rajada.
Quatro noites encurtadas pela prazer da tua companhia. No rosto o cansaço, na alma o conforto e na mente a inquietude que só tu proporcionas.
Recordo que da primeira vez que te li, ri sozinha como só os sábios tolos podem rir.
O humor sarcástico contido nas tuas descrições fazia-me esquecer tudo em volta e exibir um sorriso rasgado, por vezes até soltar uma gargalhada perante a cena que se desenrolava. Como se a presenciasse. Como se a vivesse.
Prendeste a minha imaginação desde o primeiro parágrafo. Por ti, tornei-me o narrador passivo desta história. Por vezes confundi papéis e julguei ser um narrador ativo. Uma personagem secundária ou mesmo a principal. Noutras tantas fui mero figurante que do meu canto observava o desenrolar da história.
Quando assim nos sentimos, como parte da história, não podemos sair a meio. Não podemos ausentar-nos sem saber como termina. Do mesmo modo que não deixamos a caneca de leite com chocolate a meio, nem abandonamos a sessão de cinema.
A curiosidade. A eterna curiosidade de querer saber o que vem depois. De querer saber o que acontece no fim. Contendo a ansiedade que por vezes nos impele a espreitar os capítulos finais.
Não o fiz. Não o faço. Não quando a história nos agarra e queremos saber como acaba mas não queremos que termine. Para que possamos continuar a dela fazer parte.
Hoje, um ano depois, pouco mais de um ano depois, reli as tuas páginas.
Não ri como anteriormente. O humor embora presente não foi suficiente para me arrancar um sorriso. Algo mudou no espaço de um ano. Eu mudei.
Desta vez, não foram os momentos caricatos nem a leveza do lado bom da vida que me prenderam os sentidos.
A frustração, a angústia, o desespero, a dualidade, o conflito reclamaram o seu espaço. O riso deu lugar à lágrima. Lágrima essa que também tinha tido o seu lugar na primeira vez que te li, mas que assumira um papel secundário. O que importava era o Amor. O Amor incondicional. Em que nos anulamos porque o que o Outro necessita se torna mais importante. Porque embora egoísta, o Amor também pode ser altruísta. E esse altruísmo surge quando escolhemos aceitar que jamais o Amor pode negar a quem amamos o direito a escolher. ("Ainda que a mim me toque perder.")
O Amor continua a ser o que importa. Mas bolas,... ser altruista nem sempre é fácil. Às vezes gostava de poder reescrever o final da história...
(imagem retirada da net)