Deixa que o tempo passe por ti...
O tempo parou para ti. Deixaste de contar os minutos e as horas transformadas em anos.
Em ti são visíveis as marcas das estações. Manténs a tua altivez mas por dentro algo se quebrou. Oiço as lágrimas que por detrás dessa fachada correm. Sinto a dor do abandono e o peso do vazio enorme que dentro delas se instalou.
O tempo para ti parou. A sucessão dos dias e noites deixaram de importar.
A custo procuras ocultar qualquer vestígio de vida que em ti ainda persiste. Preferes esconder-te a sofrer uma vez mais. Ainda dói...
Deste tanto de ti... e no entanto tudo voltarias a dar se soubesses ser diferente.
Não guardas rancor, mas a tristeza pesa em ti. As grades que um dia ergueste e que o tempo não derrubou mantêm longe quem te possa magoar, mais longe ainda quem te possa amar.
Não te importa o presente, muito menos o futuro.
Agarrada às lembranças de outrora, às memórias de um passado que ainda não se desvaneceu, tornaste-te prisioneira de ti.
Não te escondas mais por detrás dessas fachadas. Chora tudo o que tiveres a chorar. Deixa que outros vejam as tuas lágrimas cair. Deixa cair também o gradeamento. Liberta-te de tudo e de todos. Liberta-te de Ti.
Não percas contudo essa tua altivez, assume todo o teu valor. Exibe com orgulho as marcas das estações em ti gravadas e deixa que o tempo passe por ti.
Deixa que o tempo passe por ti...