Criança sem mãe, filha de pai feirante. Escolas e escolhas errantes, foi deixada para trás. Não aprendeu a ler ou a escrever...
Cresceu solta no mundo. Observando e apreendendo o que a rodeava.
O que a literacia não lhe trouxe, o coração proporcionou-lhe.
Aprender a ler, é hoje uma ferramenta acessível à maioria. Saber fazer bom uso dessa capacidade é mais relativo...
No meu caso, essa competência, hoje, possibilitou-me ver um filme, ler as suas legendas e entender a mensagem sublimada nas entrelinhas. Falo de "Stanley & Iris", ou se preferirem, de "Por amor a Iris". Um filme de 1990 que conta com Jane Fonda e Robert de Niro como protagonistas.
A história de um homem simples que por circunstancias da vida chegou à idade adulta sem saber ler ou escrever...
Ficção?!? Talvez seja ficção para uns. Para outros... uma dura realidade.
A história de um Homem que por vezes pensou desistir. Demasiado cansado para lutar, sentiu-se tentado a baixar os braços e parar.
A história de um Homem que na sua prisão - na prisão do seu silêncio, no seu sofrimento pessoal carregado de medo e vergonha por não saber ler, na culpa que suportava mas que não lhe pertencia - revelou toda a sua mestria.
A história de um Homem que nada devia à sua inteligência e capacidade intuitiva e que ao encontrar quem nele acreditasse desabrochou e tudo conquistou.
Esta é também a história de uma Mulher. De uma Mulher com M maiúsculo.
A história de uma mulher que colocou sempre o bem estar dos outros à sua frente, pois deles dependia o seu próprio bem estar.
A história de uma mulher que aparentemente se resignou a trabalhos menores pela estabilidade da sua família, mas que se revelou incansável mesmo quando se sentia derrotada pela Vida.
Momentos havia, por mais pequenos que fossem, em que olhava à sua volta e sentia felicidade. Sabia então que valia a pena continuar...
A história de uma Mulher calma, paciente, perseverante, meiga, firme... que fez toda a diferença na vida de um Homem.
A história de duas pessoas distintas mas que juntas, venceram o medo, a vergonha e se superaram a si mesmas.
É que, tal como na vida real... por vezes nós somos os nossos maiores entraves.
O que retirei do filme?
Que em qualquer idade podemos e devemos fazer a diferença na nossa vida e na vida dos que nos rodeiam.
Que a Vida e os projetos que para ela traçamos não devem depender da idade constante num pedaço de papel ou documento.
Que a idade da alma é bem maior e mais ávida de crescer e ser alimentada.
Que é grande o que sabe pedir ajuda e aceitá-la.
Que para seguir em frente, por vezes é preciso largar o passado.
Que existem finais felizes, pelo menos para alguns...
Nas palavras de Stanley (a personagem),
"Iris, tudo é possível!..."
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